Sem chegar sequer a uma final nos Jogos Olímpicos de Londres, no ano passado, a natação feminina brasileira vive momento de ostracismo e incertezas. Sem grandes nomes e carente de promessas para o futuro, a modalidade começa a ser alvo de questionamentos. Buscando entender os “porquês”, Gustavo Borges, ídolo nacional, apontou duas razões básicas para a má fase das meninas do Brasil. Para ele, a vaidade e a concorrência com o vôlei têm sido determinantes para isso.
- O que falta para a natação feminina? Não sei se tem uma resposta só. O aspecto cultural no nosso país infelizmente ainda prevalece sobre muitas coisas. Uma vez estava em uma academia e uma mãe de uma menina de dez anos que estava nadando virou para mim e disse “olha como ela nada bem”. Mas, logo depois, ela disse que estava fazendo com que a menina parasse de nadar. Perguntei o porquê e ela disse que era porque a menina iria ficar com os ombros largos e ela (mãe) não queria – disse.
Para Gustavo, dono de quatro medalhas olímpicas (duas pratas e dois bronzes), o êxodo de meninas altas escolhendo as quadras também se tornou um fator decisivo para o hiato de grandes nomes da natação, e teve sua teoria confirmada pelo técnico da seleção feminina de vôlei.
- Certa vez eu peguei um voo junto com o José Roberto Guimarães, e ele me disse que no vôlei estava tendo uma grande renovação. Disse que há muitas meninas aí de 1,75m, 1,85m, 1,95m indo para o vôlei. Logo pensei “achei o problema da natação feminina”. Mas é claro que não é só isso – explicou.
Diante desse cenário, Gustavo Borges, que se aposentou em 2004, após os Jogos Olímpicos de Atenas, tentou apontar algumas soluções para reverter o quadro e fazer da natação feminina brasileira uma potência.
- A natação feminina do Brasil precisa se reencontrar. Tivemos alguns bons resultados em 2004 que achávamos que nos levaria a dar um salto para 2008 (Olimpíadas de Pequim), mas o processo não aconteceu de uma maneira bem estruturada. Estamos tendo uma renovação, sim. Não estamos conseguindo resultados positivos, mas isso faz parte do processo. É preciso aumentar o volume de meninas nadando. Precisamos também ter profissionais gabaritados, prontos para manter as atletas motivadas e interessadas, já que passam por uma época complicada de juventude com festas, namoros, videogame e vida social muito ativa. Tem que ter cuidado – disse.
Resultados no Mundial não são prioridade
Pensando no presente, Gustavo avaliou as chances brasileiras no Campeonato Mundial de Barcelona, na Espanha, que acontece em agosto deste ano. Para ele, o momento não é de pensar em resultados, e sim em se preparar para o objetivo maior: os Jogos de 2016, no Rio de Janeiro.
- Podemos ter boas surpresas. Acho que temos uma equipe forte e jovem. É uma competição para irmos lá, pegar final e disputar medalhas. Mas não tenho expectativas muito grandes. Hoje, o mais importante é esse processo de renovação. A ideia é se preparar para 2016. Não podemos nos submeter a uma pressão por resultados agora. O Mundial é importante, mas não é decisivo – analisou.
Fonte : Ahe
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