Um dos mais importantes conteúdos de qualquer Curso de Aprendizagem em Natação é a adaptação das crianças (e outros alunos em geral) à parte funda da piscina, ou seja, onde eles não conseguem ter apoio dos pés no fundo. Essa importância decorre menos do tipo ou estrutura da piscina utilizada (muitas delas nem têm profundidades acima de 1,50m), mas muito mais do próprio objetivo visado pelos pais quando procuram um curso de Natação.
Não se engane, estudante ou colega professor: a esmagadora maioria dos pais matricula seu filho na Natação para prepará-lo para enfrentar águas profundas sem sustos. Saúde, pleno desenvolvimento psicomotor, iniciação esportiva e outras motivações, tão lembradas por nós profissionais são via de regra, objetivos secundários para os pais. O importante é não se afogar!
Acontece que adaptar um aluno à parte funda da piscina é, em última análise, adaptá-lo a depender de sua própria sustentação por tempo indefinido. Portanto, a adaptação ao fundo começa ainda no raso, com atividades de sustentação, tanto passivas (domínio de flutuações em diversos decúbitos e manobra de retomada da posição vertical e vice-versa), como ativas: flutuações com ajuda de braços e pernas em diversos decúbitos, posições e com várias formas de palmateios.
Nestas atividades de sustentação, um aspecto muitas vezes negligenciado é o controle respiratório, que deve acompanhar muito de perto a aplicação de todo exercício: apnéias inspiratórias, expirações pelo nariz, etc.
Quando as crianças estiverem com um domínio bem consistente destas habilidades básicas no meio líquido, podem começar a ser levadas para a parte funda da piscina. Como no início o aspecto psico-emocional será predominante, com os alunos tendendo a ficarem muito tensos, recomendo sempre que as idas ao fundo se iniciem com incursões rápidas de 5 a 10 minutos, no final das aulas.
Dessa forma o restante dos conteúdos a serem trabalhados não ficará completamente de lado, e a ida das crianças ao fundo por repetidas vezes (mesmo que por apenas alguns minutos), vai fazendo com que os alunos superem aquela aversão emocional que vários têm, muitas vezes incutida pelos próprios pais, e fazendo-os enxergar a parte mais funda da piscina apenas como um lugar que exige cuidados especiais.
Quando os alunos estiverem não só bem de sustentação, mas também mais descontraídas com relação à parte mais funda, aí sim é hora de iniciar uma temporada com aulas inteiras neste local.
É importante que se diga que sempre que se forem levar alunos no fundo, alguns cuidados importantes devem ser tomados pelo professor para que ninguém “beba água” ou se assuste:
1. sempre deve haver ao menos um instrutor dentro d’água. Parece óbvio mas não é: ainda tem gente que acha de dar aula no fundo para iniciantes sem entrar na água, valendo-se exclusivamente de varas, cordas, tubos ou outros elementos para ajudas externas. Esqueça. Se você estiver em dupla, um professor na água e outro fora até pode. Se tiver um monitor ou estagiário, você fora e ele dentro.
2. o professor (ou quem for entrar na água) deve ir ao fundo preferencialmente com colete de flutuação, montado sobre dois espaguetes ou com ajuda de algum outro elemento flutuador. É fundamental que ele não se canse (lembre-se que podem ser duas, três ou até quatro aulas em seguida) e, mais do que isso, que ele posa ajudar facilmente algum aluno em apuros;
3. jamais permita que alunos fiquem atrás de você ou fora de seu campo de visão por qualquer razão. Todos os casos que soube de sustos, com alunos bebendo água, aconteceram com alunos que por alguns segundos, ficaram fora das vistas dos professores. Foi o suficiente.
4. prefira dar aula sempre perto de alguma das escadinhas da piscina. Isso facilitará a saída e reentrada dos alunos, e mesmo a sua em alguma eventualidade;
5. se estiver utilizando plataformas, JAMAIS dê as costas para ela.
Se todos estes cuidados não foram suficientes e alguém “beber água”, nunca o tire da piscina para acalmá-lo e nem deixe-o ir embora com esta impressão. Mantenha a calma, recoloque-o com os outros e prossiga como se nada tivesse acontecido. A sua desvalorização do fato ajudará a criança a superar o susto. Mesmo que isso aconteça no último minuto de aula, fique com ela ainda por pelo menos 10 minutos em atividades bem fáceis e lúdicas.
Texto : Paulo Henrique Bonacella (portal da educação física)
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