Quando penso numa criança feliz, eu lembro todas as crianças que conheço quando estão literalmente soltas num ambiente propício para fazer do corpo o seu brinquedo.
Criança que se movimenta pouco, que não tem um tempo ou um espaço para correr, pular, escalar, cair e levantar, provavelmente não sabe o que é felicidade.
O mais bizarro, para mim, é quando uma criança na faixa etária dos 3 aos 6 anos acredita que é super legal ter o brinquedo da moda, usar uma roupa da marca infantil mais famosa ou ir ao cinema.
Eu tenho pena de crianças que apesar de tão pequenas já são vítimas do consumismo e desde tenra idade estão condenadas a valorizar o TER ao invés do SER. Crianças assim, não sabem o que é brincar de verdade e quando se deparam com aquelas que sabem viram meros expectadores, se divertem através dos demais e pode até ser que, aos poucos, elas aprendam a brincar, isso, se mantiverem o convívio com as crianças felizes.
Atividade física para criançada, além de o verdadeiro brincar, é aquela em que o seu corpo é constantemente desafiado, de preferência em grupo, com música, utilizando-se de grandes deslocamentos e fazendo do peso corporal a sua sobrecarga. Estas características encontramos na ginástica, nas lutas, na dança, na capoeira, nos esportes de quadra e, claro, na brincadeira espontânea, aquela que poucas crianças fazem hoje em dia, livre de estereótipos.
A nossa cultura popular é a mais rica em brincadeiras infantis, ou melhor, dizendo, atividade física infantil. Terra, árvores, pedrinhas, latas, caixas de papelão, bola de meia, elástico, corda, bambolê, boneca de pano, bola de gude, pneu, papel, tinta ou nada disso, bastando um espaço para correr feito louco e poder gritar ou cantar sem ninguém reclamar, isso sim é brinquedo.
Mas, infelizmente, os dias atuais estão privando as nossas crianças de serem felizes. Geralmente moram em apartamentos e o trânsito e a violência não permitem brincar na rua, os pais estão sempre ocupados, trabalham demais, e quando saem de férias com as crianças preferem fazer um cruzeiro ou conhecer o Mickey, ninguém pensa em ir para o campo ou para praias adequadas para as crianças.
Mas nem tudo está perdido, ainda existem crianças que passam férias na casa dos avós, comemoram o aniversário com bolo de verdade, sobem em árvores, criam suas brincadeiras, andam descalças, enfim, ainda existem crianças que fazem do seu corpo o seu brinquedo, especialmente na zona rural, nas pequenas cidades ou em bairros de subúrbio.
Enquanto educadores físicos, que atuam com crianças, precisamos libertar as crianças das amarras do brinquedo estereotipado, precisamos utilizar estratégias de resgate do corpo brinquedo, mostrar à criança que o corpo é funcional, é versátil, é flexível, forte...
Fonte: Portal da Educação Física
Adorei o texto
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