Coaracy Nunes - Presidente da CBDA desde 1988 |
Cada um dos 5 pontos renderia um post específico, e talvez até assim aconteça em um futuro próximo. Mas não dá pra deixar passar esse momento delicado que a natação brasileira enfrenta. Vamos aos pontos:
1 – Você sabe dizer quem é o principal nadador do Brasil atualmente?
Se você não é um apaixonado por natação ou não respira o mundo esportivo, talvez não tenha cravado a resposta para a pergunta acima. Atualmente nosso principal nadador é Cesar Cielo e lendo seu nome, claro, é fácil ter a certeza de saber quem é, apontando-o como o principal nadador do país. Mas aí está a grande dificuldade. Uma coisa é perguntar quem é Cesar Cielo, e saber que falamos do principal nadador brasileiro atualmente. Outra coisa é ser perguntado sobre o principal nadador sem ter a resposta estimulada e não ter imediatamente em sua cabeça o Cesar. Seu nome já está diretamente ligado à natação para os brasileiros. Mas a natação ainda não nos remete imediatamente ao nome do brasileiro que nos trouxe importantes medalhas olímpicas nas duas últimas disputas, incluindo um ouro em 2008. Cesar Cielo é (ou já deveria ser) um ídolo no Brasil, mas sua imagem ainda não está consolidada nesse sentido. E suas vitórias já permitem que estivesse.
2 – Thiago Pereira quer ser exemplo para os nadadores mais jovens
Thiago Pereira, que fatura medalhas em quase todas as competições que disputa e é um dos maiores vitoriosos da história dos Pan-americanos, declarou esta semana que quer nadar pra ser um exemplo para os mais jovens. Não há nada de errado nisso, mas a decisão de se transformar nessa referência não pode ser do Thiago. Ao ganhar dezenas de medalhas como já ganhou, as pessoas que cuidam de sua carreira, os clubes que defendeu e a própria CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) deveriam pensar assim. Não se escolhe um ano, como 2013, para passar a ser referência. Se Thiago ainda não se vê ou não é “usado” como tal, há um equívoco no planejamento da natação no longo prazo.
3 – Cielo e Pereira sem clubes pra treinar
Os dois esportistas já citados deixaram os dois clubes mais conhecidos do Brasil nos últimos meses (Flamengo rescindiu com o Cielo e o Corinthians não renovou contrato com o Thiago), quando estamos nos preparando para receber a próxima Olimpíada. Como clubes dessa grandeza não conseguem alavancar recursos para manter entre seus esportistas nadadores do nível de Cesar e Thiago? Talvez aqui até não haja necessariamente apenas falha dos clubes. Mas se não houver, só fica claro como o mercado e os próprios brasileiros ainda não enxergam na natação um esporte como motivo de orgulho. Porque se fosse assim, Cielo, Pereira e tantos outros seriam disputados por vários clubes. Mas não. Após 3 meses, Thiago Pereira acertou com o Sesi/SP e Cesar Cielo, em um contrato temporário, está acertando com o Clube de Campo de Piracicaba, do interior paulista.
4 – Fechamento de um dos principais centros de treinamento do país em prol do futebol
O Parque Aquático Julio Delamare, um dos melhores centros de natação do país, foi desativado pelo governo do Rio de Janeiro para que o Maracanã receba os jogos de futebol da Copa das Confederações. O parque servia como local de treinamento de grandes esportistas, considerados esperança de medalha para o Brasil na Olimpíada de 2016, que acontecerá no próprio Rio. Quem lá treinava ou busca uma alternativa ou fica sem treinar. O pior é que mesmo após a Copa das Confederações e da Copa do Mundo, quando o espaço também não poderia ser utilizado, o parque não deve ser reaberto, pois já têm sua demolição programada em função do processo de privatização do Maracanã. Ah, claro, já há o projeto de construção de um novo parque aquático nas redondezas, mas… sem previsão de inauguração! Enquanto isso, aqueles que carregam a esperança de medalhas na natação para o Brasil em 2016 devem treinar em outros clubes do Rio de Janeiro, com outras estruturas e mudando totalmente seus planejamentos.
5 – Patrocínio difícil
A natação já é um esporte naturalmente difícil para a exposição da marca dos patrocinadores. E quanto menor o investimento privado nos atletas e na competição, maior a divisão do pouco orçamento que existe. É preciso criar alternativas para a atração dos patrocinadores, assim como entender quais são suas necessidades. Patrocínio não é doação e isso precisa ser entendido definitivamente. As empresas querem e merecem ter exposição que façam justiça ao investimento. Mas como investir em um esporte que perde um de seus principais centros de treinamento para o futebol ou em esportistas que mesmo ganhadores de medalhas mundo afora, não estão na cabeça dos brasileiros.
E isso remete ao ponto 1 deste post, ou seja, é um ciclo. Ou o tornamos virtuoso, e isso precisa ser construído por clubes, esportistas, patrocinadores, Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos e Comitê Olímpico Brasileiro, ou permanecerá um ciclo vicioso, como atualmente é, e quando chegarmos em 2016, 2020 ou 2024, não poderemos ter grandes expectativas. Porque o país quer ter orgulho de seus esportistas e de suas conquistas, mas nossos esportistas também querem ter orgulho da estrutura que o país oferece a eles. Porque nadar para o nada não dá. Dá?
Fonte: Portal Exame
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