segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sem milagres, muito trabalho e planejamento

O texto abaixo publicado no Jornal Folha de São Paulo, pela jornalista Mariana Lajolo, mostra como a Grã Bretanha, tem elaborado o seu esporte de alto rendimento, desde as Olimpíadas de Atlanta-96. Não existe milagre ou fórmula secreta, e sim, planejamento e investimento realizado de forma correta.

Demorou quatro dias e parecia uma eternidade. Grandes estrelas já haviam entrado em ação, mas a primeira medalha dourada não vinha.

A agonia dos britânicos, que já temiam um fiasco olímpico, acabou na quarta, quando Heather Stanning e Helen Glove finalmente subiram ao topo do pódio no remo.

A partir daí, uma enxurrada de medalhas. Anteontem, com seis ouros, a Grã Bretanha obteve seu melhor "dia olímpico" desde 1908, quando recebeu sua primeira Olimpíada em casa.

O país já ocupa a terceira posição, com 16 ouros, 11 pratas e dez bronzes.

Pode hoje mesmo, sete dias antes do final dos Jogos, superar a marca de medalhas de ouro de Pequim-2008: 19.

O ciclismo e o remo, paixões nacionais, já conquistaram cinco e nove medalhas respectivamente. Na água, os britânicos amealharam o dobro de ouros de 2008: quatro.

No atletismo já venceram três provas, contra apenas uma dos Jogos chineses.

Exemplos de sucesso de um programa que começou após a performance vexatória em Atlanta-1996.

Os britânicos conquistaram só uma medalha e ficaram na pior posição no quadro de medalhas desde 1900.

O fiasco acelerou a reforma no modo como o esporte britânico era organizado e financiado. Os atletas passaram a receber diretamente verba de loteria em 1997.

No Brasil, esse dinheiro vai para o Comitê Olímpico Brasileiro, que o distribui para as confederações. Desde 2001, já foram arrecadados R$ 901 milhões via Lei Piva.

O trabalho da Associação Olímpica Britânica também foi mudado, e a entidade passou a fomentar o desenvolvimento da equipe e não apenas gerenciar suas viagens.

No primeiro ciclo olímpico, foram gastos R$ 235 milhões. Os britânicos ganharam em Sydney 11 ouros, dez pratas e sete bronzes.

Em Atenas-2004, com injeção de mais R$ 100 milhões, a equipe ganhou nove ouros, nove pratas e 12 bronzes.

Em 2005, com o anúncio de que Londres receberia os Jogos de 2012, os britânicos aumentaram o investimento.

Em 2006, o governo anunciou aporte de mais cerca de R$ 315 milhões por ano em projetos esportivos de elite.

Em Pequim-2008, a delegação saltou para 19 ouros, 13 pratas e 15 bronzes.

O dinheiro investido no remo triplicou de 1997 a 2012.

O do atletismo mais que dobrou e o ciclismo recebeu quatro vezes mais verba.

Aumentou o dinheiro, mas também cresceu a exigência.

As metas de medalhas para os Jogos em casa são claras e públicas. No remo, por exemplo, é ganhar tudo.

O Brasil não aumentou sua meta de medalhas nos Jogos que antecedem a Rio-2016. O COB pretende obter os mesmos 15 pódios de 2008. A consultoria contratada pelo comitê apontava oito ouros, meta muito difícil de ser atingida agora. O governo, que aumentou seu investimento no esporte, pede mais.


Texto de Mariana Lajolo
Jornal Folha de São Paulo

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