O ser humano é um ser de linguagem. Linguagem que já existe antes mesmo do nascimento. O bebê já é falado antes do nascer. Quando nasce, possui nome, características esperadas, desenvolvimento e futuro desenhados por seus pais e por sua família. Filhos de pais distraídos nascem com o estigma de que serão também distraídos e cabe a eles, no futuro, se descolarem dessas premissas.
E como o bebê se encaixa nisso?
O recém-nascido é falado por meio de seus pais, em especial, da figura materna, a quem cabe ler, interpretar e saber sobre seu filho, numa simbiose natural. É ela quem determina se o bebê está com fome, se está com sede, sono… Na maioria das vezes, em uma transferência de sentimentos, sensações, formas de agir e expectativas próprias. Se a mãe está com frio, o bebê é agasalhado, mesmo que a temperatura esteja em 42ºC. Esse relacionamento é importante e necessário, afinal, o filho nasce totalmente dependente de outro ser humano para ser cuidado.
Françoise Dolto, médica e psicanalista francesa, revolucionou a psicanálise infantil quando introduziu o trabalho psicanalítico com bebês, na relação mãe-bebê. Para ela, era fundamental conversar com o bebê e entender sua linguagem (no caso, corporal) para que as palavras passassem a dar sentido ao que ele estava vivendo, numa forma de inseri-lo no mundo. É por meio das palavras que o bebê encontrará seu lugar na sociedade e cabe à função materna vestir sua linguagem de palavras.
O bebê quer se comunicar, ele se comunica e, como a comunicação é uma via dupla, cabe a nós seguir seu ritmo para revesti-la de palavras e transformar a linguagem do bebê em simbólica. “Ouvi-lo” por intermédio da leitura maternal e, falar com ele, é fundamental para o desenvolvimento. É assim que ele vai ser inserido no mundo simbólico no qual foi concebido.
Texto : Letícia Rangel
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